sábado, 15 de janeiro de 2011

A diferença

A diferença está:
- no que você aceita.
- em como você aceita.
- de quem você aceita.
- por que você aceita.
- o quanto você aceita.
- até quando você aceita.
- para quê você aceita.
- no que você espera depois que você aceita.
QUALQUER UM PODE TE DAR, MAS A DIFERENÇA ESTÁ EM VOCÊ.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Seria ela ou outro alguém?



Era exatamente 4:46 da manhã quando ela pulou da cama como um gato descoberto pelo cachorro.
Sua mãe abria a porta do quarto pra dizer que seu pai estava com dores muito fortes no pescoço e que estavam se preparando pra ir pro hospital. Sem titubear, trocou o pijama pelas primeiras calças e camiseta que encontrou, pendurou os óculos no rosto livre dos cabelos por um terrível rabo-de-cavalo e saiu.
Sentada no banco de trás do carro, guiado pela mãe que fez questão de impedí-la de chegar ao volante reclamando que sua direção era rapidamente perigosa, gastou o trajeto até o hospital pensando nas coisas que perguntaria ao residente que estaria lá no plantão com cara de sono e nadinha interessado na saúde daquele mais-um que ali chegaria. Dores na nuca e em todas as juntas era um quadro alarmante pra um senhor cujo amigo havia sido perdido há dez dias para um quadro de septicemia agudo que chegara até seu sistema nervoso central.
Carro estacionado, ficha preenchida, ouviu apenas essa frase: "Só pode entrar um acompanhante. Quem será? A senhora ou ela?" Bom, sabia que ela era ela mesma. Claro que, acostumada ao terceiro ângulo de muitos triângulos, sabia, também, que a acompanhante não seria ela. Sentada no sofá da sala de recepção, dividiu-se, nos minutos seguintes, entre ler (o livro estrategicamente colocado na bolsa pra emergências), rezar (pro doutor-residente ser alguém que tivesse um pai adorável) e pensar (sim, como toda boa geminiana ela é capaz de fazer tudo isso ao mesmo tempo e bem-feito):
"Seria ela, certamente, se a querida mãe não estivesse presente.
Seria ela, se tal fulana não tivesse aberto as pernas sem nenhuma outra consideração mais humana.
Seria ela, se o mundo fosse mais feito de dois pontos lineares ao invés de três pontos angulares.
Seria ela, não fossem tantos pudores amontoados num só espírito por vidas a fio ou se não existissem tantos medos e pavores a rodearem um coração no estio.
Seria ela, se os romances tivessem sido trocados, de vez em quando, por outros olhos apaixonados.
Seria ela, se as paisagens bordadas ponto a ponto sobre o tecido em seu colo tivessem sido plantadas em um verdadeiro solo.
Seria ela, se os minutos de sonhos trançados na roca e no tear pudessem ter criado um novo lar.
Seria ela, se os seus ouvidos e coração, emprestados para acalmar o próximo em aflição, tivessem alcançado outro alguém vindo em sua direção.
Seria ela, se deixasse de abraçar árvores e ouvir vento na busca de algum alento.
Seria ela, se não teimasse em esperar a chegada de outro olhar... a escrever, a respeitar, a bordar, a cultivar, a ler, a estudar, a tramar, a ajudar, a compadecer, a  temer, a se esconder, a falar..."

Mas, vem cá... será que seria mesmo? Porque... quem seria ela se não fosse o que sempre foi, fizesse o que sempre fez, sentisse o que sempre sentiu, pensasse o que sempre pensou, risse do que sempre riu, chorasse pelo que sempre chorou?

Seria ela ou outro alguém?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Vento, flores e amores


Vento, flores, amores...
São todas essas as cores
Do caminho que nos leva felizes
A buscar nossas próprias raízes.
Durante o caminhar cabisbaixo,
Procuro ver onde me encaixo.
Vagando ao som da valsa às vezes alegre, às vezes triste,
Como um dedo em riste,
Os acordes sempre apontam
O lugar onde todos nunca se encontram...
Deus sempre nos conceda a paciência enfeitando a esperança
Que torna cada vez mais suave esta bela dança
Onde os passos se tornam frágeis
Enquanto os dias se mostram ágeis.
Os olhos e ouvidos ansiosos por encontrar,
Aos poucos perdem o riso e a capacidade de sonhar.
Contudo, os pés e o coração não se detêm na caminhada
E parecem não deixar-se desanimar em cada porta que lhes parece fechada.
Assim, passeando pelas flores e ao som do vento,
Os passos se fortalecem, a alma de repente ganha novo alento.
E, entre a paciência e a esperança,
Os olhos e os sonhos deixam para trás a tristeza que cansa,
O riso retoma a alegria da valsa
E os amores?
Ah, os amores libertam-se da ilusão,
Que nunca deixou de ser a solidão
Em todos os seus sentidos... falsa.



Debaixo da árvore: Super, Id e... e Eu?

- Eu comecei a escrever um blog!
- O que? Ah, sei, um blog. Isso quer dizer que você finalmente está voltando a ser aquela pessoa que sempre foi! Aquele de quem sempre me orgulhei. Que bom que resolveu começar a colocar à disposição de todos os seus conhecimentos adquiridos em tantos anos de estudo! Afinal de contas não é assim que de joga fora uma faculdade, um diploma de mestre e um título de doutorado.
- Não, mas Eu sinto que...
- Sim, porque o Id já perdeu as esperanças em você e eu cheguei a pensar que você estava começando a me trair. Imagina, uma doutora viajada e respeitada de repente começa a andar com umas pessoas estranhas que só falam de músicas estranhas, gente meio louca ou meio alienada que não tem emprego, diploma e nem juízo... Passa a trocar seus textos científicos e sua conversa muito bem educada por uns “papos” sobre teatrólogos, Peter Pan, dona de bordel, gibis, abraçar e conversar com as árvores...
- Super, cale a boca! Pare de ocupar o tempo de Eu com essa ladainha de sempre. Quem você pensa que é? Eu nunca me dá ouvidos, a não ser, claro quando é preciso correr! Qualquer outra coisa que tento dizer-lhe fica pra trás, mas quando você o lembra de que há muito pra ser feito, corrigido, arrumado. Que esse mundo tem muita gente em necessidade de educação, conversa, comida, ombro. Quando você mostra pros olhos de Eu que tem muito lixo pra ser removido e reciclado. Sussurra em seu ouvidos que sobram: ideias a serem modificadas, transformadas; ideais pra serem concretizados; pessoas pra serem unidas, casamentos pra serem refeitos, órfãos e idosos a serem amparados... Ah, aí você o ganha. Não sobra espaço pra mais ninguém!
- É verdade, Eu quero...
- Mas, Id, você acha que a vida é o que? Dançar, namorar, embelezar-se, oferecer-se? Onde se chega com isso? À desilusão, ao vazio, ao coração partido e, por que não dizer, ao desemprego. Por falar nisso, Eu,  há um ano que você não publica um artigo. Nesse blog aí você vai falar de leite ou ... só de árvores, de te-a-tro, de curta, de fo-to-gra-fias e outras coisas que não enchem a barriga de ninguém?
- Na verdade, Eu acho que...
- Cale a boca Super! Não posso dizer que esta convivência com esse povo alternativo esteja sendo de todo uma má ideia porque esse pessoal estranho começou a mostrar pra Eu novas formas de se enxergar, arejando cantos bem escondidos onde muitas coisas estavam há muito adormecidas. É! Eu começou a sentir, a acender e ascender de um escuro meio gosmento no qual não havia vida nenhuma. Às vezes você exagera colocando muitas responsabilidades sobre Eu e daí quem pode se interessar? Quem vai olhar duas vezes pra esse coitado?
- Sabe que Eu penso...
- QUER SABER, EU? QUEM DISSE QUE NÓS DOIS ESTAMOS INTERESSADOS NO QUE VOCÊ SENTE, QUER, ACHA OU PENSA! A DISCUSSÃO AQUI É ENTRE NÓS. FICA NA SUA E SE VIRA.

sábado, 1 de janeiro de 2011

o dia do não fazer

O dia do não-fazer somente nos deixa a opção de sermos, estarmos e pensarmos.
Talvez, por esse motivo, seja aquele dia que custa a passar, que parece não nos deixar respirar com a mesma falsa leveza de todos os outros dias que começam e rapidamente terminam, sem que o esforço do reconhecimento possa se instalar.
ASSIM, SÃO SIMPLES E FÁCEIS OS DIAS DE NÃO-FERIADO, QUANDO CORREMOS ATRÁS DO QUASE-NADA QUE ATRAPALHA O SENTIR ATRAVÉS DO TANTO PENSAR.
É muito chato parar e muito custoso o olhar, pois nessas horas em que a vida pára para nos dar passagem, há pouca coisa de nós a se apresentar. O grande vazio do não-nos-conhecermos é a única alegoria que se revela com uma presença inconfundível e uma cor melancólica.
OLHAR E NÃO ENXERGAR, ESCUTAR E NÃO OUVIR SÃO OS SINAIS DO GRANDE DESPERDÍCIO DO LEVANTAR E RESPIRAR DE CADA DIA. Sinais de que as ferramentas que escolhemos para ser e estar não nos ensinam a viver. Não nos permitem conhecer nada porque não nos levam a explorar o que temos, somos e sentimos. Deixam-nos apenas pensar que fazemos tudo isso, suprindo a nossa fome num piscar de olhos, sem o trabalho de mastigar ou sentir o que estamos sendo. Assim, resolvemos um e estamos prontos pra outro e mais outro problema, sem darmos conta de que não nos transformamos.
COMO VIVER O QUANDO DEVERIA SER A PREOCUPAÇÃO MAIOR EM VEZ DE EMPLACARMOS APENAS O PARA QUÊ VIVER. Este motivo sempre aparecerá quando os olhos se esquecerem e os ouvidos se desligarem, ao passo em que a motivação deve enfrentar imagens e sons que a todo momento entram por essas portas que ligam o nosso ser-mundo-interno com o nosso estar-mundo-externo.
A TRADUÇÃO DESSAS MENSAGENS EM DESÂNIMO E DESCRENÇA OU EM FORÇA E FÉ DEPENDE DE UMA VIBRAÇÃO QUE SE ENCONTRA EM NOSSA ALMA ENCOBERTA PELAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS E NÃO ESQUECIDAS E QUE SE AMONTOAM, OCUPANDO UM ESPAÇO QUE NÃO MAIS LHES PERTENCE POR SEREM TODAS ELAS UM PASSADO QUE NÃO VIVE MAIS. Não são mais, contudo continuam estando. Assombrando.
Boas ou más experiências, como deixá-las para trás? A memória mantém vivo o desejo que, para fazer-se realidade, exige a constante compreensão de tudo, num ciclo vicioso interminável.